sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Conto do giz e lousa

É difícil desistir, reconhecer que fui vencida.
Mesmo com o fim anunciado, sentido em carne viva.
Depois do fim com o que ficamos? Com as lembranças.
E antes que o tempo dilua suas cores, seus cheiros,
Registro como forma de preservação.
No começo da vida de professora, o guarda-roupa de madeira escura,
era a lousa que só era porque estava velho quase despencando.
Os alunos minhas bonecas, sentadas sobre a cama de casal dos meus pais.
O que reproduzia como professora eram berros impacientes e saculejões,
a lousa cheia de cabo a rabo, e gritava pedindo pedindo silêncio
as bonecas mudas.
O guarda - roupa se foi e as bonecas desinteressaram.

Um dia de sol muito forte olhei pra o monte de areia que
há dias esperava por alguém para carregá-la ao fundo do quintal de casa.
Não era minha aquela tarefa, mas não sei dizer hoje porque,
peguei o carrinho de mão, a pá e comecei a carregar,
pensei em fazer um pouco, mas aguentei fazer mais e carreguei no
carrinho um monte de areia maior que eu.
Gostei de equilibrar na madeira que ligava a rua a laje de nossa casa.
Gostei de passar pela laje inteira, virar o carrinho e ver a areia despencar.
Me distrai com o céu azul sem nuvens e o sol forte que nessa época adorava.
E assim a tarde passou, me diverti.

A noite sem acreditar no feito da menina cumprida e magrela,
meu pai sorria com todos os dentes e deu-me o direito de realizar um desejo,
que ele faria o possível para realizar.
E a menina maquela e cumprida pediu uma lousa beeeeem grande.
Não foi que nem fada madrinha, não teve pirimpimpim. Mas chegou
quando menos esperava.
Agora tinha giz e apagador, a lousa era verde como a da escola,
e os alunos eram colegas da rua. A brincadeira agora era muito melhor,
a reprodução de professora era agora espelho da Prô Claudete.

Claudete 3ª série C, fez a mim e meus amigos muito felizes,
ela sorria, criava um jeito diferente de usar a lousa,
criou o ditado mudo, do qual fiz muito uso, em muitas lousas
quando me tornei a Prô Gi.
Claudete me inspirou de diferentes jeitos, plantou em mim
o desejo do diferente dentro das mesmisses das salas fechadas
de paredes cinzentas de carteiras apertadas e com pouco espaço
para afeto.
Claudete fazia o sol entrar, voltei a escovar os dentes e
pentear os cabelos.

Giselda Perê